Edições 976 e 977 (26 de janeiro e 2 de fevereiro de 2008)

As 10 bandas mais conceituais do século XX

amos fazer uma viagem pelo tempo? E essa viagem é bem democrática, abrigando tanto pessoas mais velhas, que terão boas lembranças dos seus tempos juvenis, quanto mais jovens, como eu, que sabem que no mundo fonográfico atual se está esquecendo de um importante fator: a musicalidade. É... o bate-estaca das boates e, principalmente, o funk, que não é o verdadeiro funk mas todo mundo insiste em chamar esse lixo musical assim, são os estilos que a maioria dos adolescentes escutam hoje. E eu pergunto: onde está a musicalidade? Escondida nos estonteantes sons eletrônicos produzidos em uma picape de DJ ou nas letras nojentas e sem base de cantores (ou melhor, MCs) sem a mínima qualidade? O pior é que todos esses ainda têm o total apoio da imprensa. É por isso que sou saudosista.

Bom, agora que voltei, depois de ficar quase um ano sem escrever neste jornal, por falta de tempo, pretendo esboçar minhas idéias neste espaço por um período maior do que da primeira vez em que freqüentei as páginas do DEMOCRATA.

Voltando ao assunto: nossa viagem vai passar pelos anos 60, 70 e 80, invadindo um pouco a década de 90, até o “suicídio” de Kurt Cobain, vocalista do Nirvana, quando iniciou-se uma era marasmática, que perdura até hoje, infelizmente. Procurei listar dez bandas que representassem bem os conceitos de seus estilos musicais e, como esse número é bem reduzido, ficou muita gente boa de fora, valendo a pena citá-los: Deep Purple, The Doors, Yes, Metallica, Queen, Ramones, Scorpions, The Who, The Jimi Hendrix Experience, etc. Preferi não apelar para nomes tão superiores como Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley ou Bob Dylan. Tudo isso daria uma outra lista não menos importante do que esta. Ah, para cada grupo cito alguns discos que não podem faltar em qualquer estante. Então, vamos lá! Aí vão os grandes nomes, em ordem cronológica:

Pink Floyd
A banda inglesa foi fundada em 1965 e são relacionados a esta grandes nomes: Roger Waters, Syd Barrett, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, sendo os três últimos os atuais membros do grupo de vovôs que está na estrada até hoje, com mais de quatro décadas de carreira. Maior nome do rock progressivo mundial, a grande obra-prima da banda foi o álbum The Dark Side Of The Moon, de 1973. Além disso, também deixo a dica de um dos melhores shows da história, registrado no DVD P-U-L-S-E, de 1994. O clima do show é realmente fantástico.




Led Zeppelin

Já em 1968, Robert Plant, Jimmy Page, John Paul Jones e John Bonham (vale a pena citar o quarteto completo) começavam a escrever, em linhas tortas, o heavy metal. Porém, a principal característica musical do grupo inglês foi a mistura do rock com o blues. Com um toque psicodélico, típico dos anos 60, os “deuses do rock” são, a meu ver, a banda que mais influenciou todos os outros grandes nomes que surgiriam mais tarde. A dica vai para Physical Graffiti, álbum duplo, um dos mais vendidos. É neste disco que se encontra a cansativa, porém interessante, Kashmir.




Black Sabbath
Agora, sim! O lendário Ozzy Osbourne e sua trupe (todos ingleses, para variar), de 1968, são considerados os “inventores” do heavy metal. Atualmente, são tachados como black metal, devido às letras, no mínimo estranhas, e às harmonias totalmente doidas, com muita dissonância e acordes diminutos. O melhor álbum do grupo é, sem dúvidas, Paranoid, de 1970, o segundo lançado pela banda e o único que alcançou o primeiro lugar nas paradas do Reino Unido.




Jethro Tull
O grupo inglês — que coincidência! — Jethro Tull, de 1968 também, revolucionou totalmente a música folk (nome chique dado à música regional) da época, ao misturar esta com pitadas de rock progressivo. O resultado foi ainda melhor com a inserção de solos de flauta nas músicas, executados pelo também vocalista Ian Anderson. É claro que a sugestão fica para Aqualung, de 1971, álbum que contém música homônima, sendo esta o maior êxito da banda.




AC/DC
Esta banda é pura energia, literalmente! Além dos irmãos guitarristas Malcolm e Angus Young, o integrante mais ilustre do grupo foi o cara que melhor personificou o rock’n’roll: Bon Scott. Com certeza, ele terá espaço merecido em outra oportunidade, mas vamos falar da banda. Formado na Austrália, em 1973, o AC/DC adicionou o ingrediente que faltava ao rock: a diversão. Escute os três discos e escolha o melhor (é difícil): Let There Be Rock (1977), Powerage (1978) e Highway To Hell (1979) — todos da fase de ouro da banda, com Bon nos vocais. É só pedrada!




Rush
O power trio formado por Geddy Lee, Alex Lifeson e pelo “professor” Neil Peart é a prova viva de que bandas com três pessoas podem fazer tanto ou até mais barulho do que grupos com mais gente tocando. Formado em 1974, o Rush faz uma música totalmente independente, sem se preocupar com questões comerciais — há faixas de estúdio com mais de dez minutos de duração. Mas essa “preocupação” é bem irrelevante: apesar da extravagância presente não só na duração mais que exagerada de algumas músicas, os canadenses são o quinto grupo com mais discos de ouro e platina. Ou seja, problemas comerciais não existem para eles. A dica vai para Moving Pictures, de 1981, oitavo disco de estúdio, que possui um clássico da banda, Tom Sawyer.




Van Halen
O nome desta banda vem do sobrenome de um dos maiores nomes da guitarra no mundo: Eddie Van Halen. Mesmo acompanhado por David Lee Roth, Sammy Hagar ou Gary Cherone nos vocais, Eddie sempre foi o grande destaque do grupo, formado em 1974, nos Estados Unidos (apesar de os irmãos Van Halen serem holandeses). O movimento punk estava prestes a explodir na Europa enquanto, do lado de cá do Atlântico, se concretizava, junto do Van Halen, a vertente mais popular do rock: o hard rock. Fica a sugestão de dois álbuns: Van Halen, primeiro da banda, chocando os ouvidos da época, principalmente com a estrondosa Eruption, e For Unlawful Carnal Knowledge. O primeiro apresenta David cantando e o segundo, Sammy.




Sex Pistols
Formado na Inglaterra, em 1975, o grupo é considerado precursor do punk rock. Porém, há dúvidas sobre qual banda criou o movimento, sendo que o Sex Pistols é contemporâneo dos estadunidenses do Ramones. Só que há um pormenor: os ingleses incorporaram o espírito punk de uma forma muito mais convincente, levando ao mundo a musicalidade suja e rápida de caras sem o menor talento e o famoso lema: ‘faça você mesmo’. Outro fator que popularizou a banda é a sua atitude sobre o que acontecia no Reino Unido da época, como a crítica ao excesso de pompa dos líderes do império em Anarchy In The U.K., do álbum Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols, de 1977, primeiro lançado pelo grupo. Outra coisa: Sid Vicious é um péssimo exemplo.




Iron Maiden
Em 1975, Steve Harris, depois de tocar em outros grupos, resolve reunir alguns amigos para fazer um barulho. O baixista só não pensou que isso culminaria numa das maiores bandas da história do heavy metal. Os ingleses do Maiden deram início ao movimento chamado NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal, traduzindo: Nova Onda do Heavy Metal Britânico), pelo qual resgatavam os conceitos do velho metal, como as letras sombrias e os riffs à velocidade da luz. Só que, apesar das letras com tendência ao satanismo, o grupo produz um som muito melodioso, sendo associado, assim, ao metal melódico. É difícil dar alguma sugestão porque todos os álbuns dos anos dourados, os famosos “golden years” da banda, são ótimos. Então, lá vai: Powerslave, de 1984, quinto álbum da banda, deu origem a uma das turnês mais eletrizantes da história, a Word Slavery Tour, que passou, inclusive, pelo Brasil, na ocasião do primeiro Rock In Rio, em 1985.




Nirvana
Quando todos pensavam que o rock havia morrido na década de 90, tendo como seu principal “assassino” a música pop, surge uma luz no fim do túnel: Nirvana. Formada em 1987, a banda norte-americana era um fenômeno jovem da época, criando, a partir de uma mistura muito bem dosada, o estilo denominado como grunge, que, em inglês, quer dizer “sujo”. Hoje, qualquer analfabeto em música é capaz de reconhecer os acordes iniciais, produzidos pela guitarra de Kurt Cobain, de Smells Like Teen Spirit, do álbum Nevermind (que, diga-se de passagem, tem uma capa fantástica), de 1991, segundo álbum do grupo. O sucesso do disco foi tamanho que alguns críticos chegam a assimilá-lo como melhor de todos os tempos — vamos admitir: não é para tanto. Só que, como tudo tem um final, o vocalista e guitarrista da banda, em 1994, é encontrado morto com um tiro de espingarda calibre 12 disparado na cabeça. A primeira suspeita foi suicídio, porém, na necropsia, foi constatado que Kurt havia usado uma grande quantidade de cocaína, tornando, assim, impossível que ele tivesse forças para levantar a arma e puxar o gatilho. Desde então, nada como o que foi produzido no século XX tem agradado os ouvidos mais exigentes.