Um disco épico que nem mesmo foi lançado
astou-se mais de 13 milhões de dólares na produção do álbum mais caro da história. É também um dos mais famosos da música. Famoso não pelas canções ou por inovações, ou ainda pela produção artística. Nada disso. E sim porque o Guns N’ Roses, na verdade apenas o Axl Rose, está numa dita enrolação com os fãs, com os produtores e com os especulativos contratos com gravadoras que lançariam o épico Chinese Democracy. Desde 1997 no forno, o disco se tornou um trabalho de Penélope, inacabável. O que realmente deu uma remexida nessa estática situação foi uma notícia publicada no site do Guns, que diz que a banda está em fase de negociação com uma produtora que lançaria o álbum mais “difícil-de-parir” que já se viu na música. Só que não se pode garantir nada ainda: basta apenas rever o histórico dessa verdadeira epopéia.
Após os lançamentos dos dois discos Use Your Illusion e da turnê destes, começou um inevitável declínio na carreira do Guns. O baterista da formação clássica saiu e o álbum de covers The Spaghetti Incident? foi merecidamente um fracasso comercial. Tudo dando errado. Mas o pior veio em 1996, quando o guitarrista Slash abandonou o grupo. A partir daí, o líder Axl Rose formou uma nova trupe de instrumentistas e anunciou o início dos trabalhos de estúdio para a gravação de um novo disco, o famoso Chinese Democracy. Em 1999, uma palhinha: uma música que seria lançada no álbum entrou na trilha sonora de um filme. Como diz um amigo, agora vai! Ficaram todos esperando mas nada de disco novo.
A gravadora da banda na época tentou cobrir o atraso com um CD das melhores músicas tocadas ao vivo. Em 2001, o grupo faz uma grande apresentação no Rock In Rio 3. A ansiedade agora não era só dos fãs, mas também da imprensa, que aguardava o desfecho daquela novela. Mais um período com o Guns parado, até que em 2004 mais um álbum tapa-buraco surgiu, o Greatest Hits. Naqueles tempos, já fazia 11 anos que um disco de inéditas não era lançado pela banda. Você que acha que estas rasteiras nos fãs e na imprensa já eram o bastante, não se contente, pois tem mais. Em 2006, Axl disse em entrevista à revista “Rolling Stone” que as pessoas “vão ouvir música este ano”. Desde então, há dois anos, nada de lançamento.
Neste 2008, já são 15 anos sem um disco de inéditas do Guns N’ Roses. Uma década e meia esperando por um disco eternamente adiado. E se o tempo ajuda a amadurecer e melhorar as coisas, então podemos aguardar um ótimo álbum, pois 15 anos não são pouco tempo. Segundo declarações de Axl, alguns arranjos até lembram o Queen. Aliás, o guitarrista Brian May faz participação especial numa das faixas de Chinese Democracy.
Muito se fala sobre a possibilidade de este excessivo adiamento ser uma jogada de marketing. Com grandes expectativas criadas em torno do lançamento, maior a vendagem do disco. Também se comenta, em tom de chacota, que o álbum seria lançado justamente quando a China se tornar uma democracia, como sugere o título do CD. Por isso, a estréia teoricamente nunca aconteceria. O fato é que toda essa história já é motivo de piada há anos. Quando algo demora a acontecer, logo surgem as comparações com o álbum ainda não lançado do Guns N’ Roses.
Numa outra nota, o site informa que o boato sobre um reality show que seria baseado no demorado lançamento do álbum é uma grande mentira. Até porque, vamos falar sério, não há nexo nenhum entre coisa e outra. E esse reality seria mesmo real, como pede o próprio nome? Acho que não, porque ninguém conseguiria assistir a um programa de TV que durasse mais de uma década.
■ A divulgação da turnê do Chinese Democracy, que seria lançado em março de 2007, foi em vão.
Edição 989 (26 de abril de 2008)
