Edição 988 (19 de abril de 2008)

Nós somos a família feliz Ramones



o contrário do que sempre cito em todas as semanas sobre as bandas “milenares” que mesmo em estado de aposentadoria continuam firmes e fortes em suas carreiras — ainda bem, senão nossos ouvidos não sobreviveriam a um monopólio forçado de lixos musicais —, desta vez vamos tratar de um grupo que nesta década vem se desfigurando e perdendo uma luta da qual nenhum de nós pode sair vitorioso. Estou falando do Ramones, uma das bandas precursoras do punk e das mais importantes para o rock’n’roll. Nos últimos sete anos, os três fundadores e principais integrantes da banda, que encerrou carreira em 1996, morreram. Deixaram órfãos todos os admiradores desse grupo de sonoridade única, inigualável. Diria até que são os melhores do punk rock, estilo que é caracterizado pela ausência da técnica. Só que o importante é o que chega aos nossos ouvidos, não o que o músico consegue ou não fazer com seu instrumento. E nesse quesito os Ramones eram muito bons, indiscutivelmente. As canções do grupo são ao mesmo tempo pesadas a nível quase metaleiro e suaves e dançantes como um bom disco dos anos 80.

Então, para quem pouco sabe da banda, algo difícil, vamos lá. O Ramones surgiu na década de 70, no início do movimento punk. A banda foi fundada em 1974 e é assimilada, ao lado dos ingleses do Sex Pistols, como precursora do estilo musical. Ao mesmo tempo em que a turma de Sid Vicious é considerada a que melhor incorporou o espírito punk, é inquestionável o fato de a musicalidade do Ramones ser bem superior, bem mais evoluída. Por causa disso, o grupo é soberano quando o assunto é punk rock. Influenciou as bandas das gerações seguintes do estilo, como o The Clash, o Bad Religion, o Dead Keneddys, o The Smiths e o The Cure. O fato é o seguinte: o Ramones é uma das bandas mais importantes da história do rock e ponto final. Uma pena que os principais integrantes já tenham falecido.

O primeiro a puxar a fila para o outro mundo foi o vocalista Joey Ramone, mais precisamente Jeffrey Ross Hyman, já que o sobrenome Ramone é artístico. Faz parte daquele pessoal que canta de maneira única, inconfundível. Aliás, a música do Ramones seria igual à das outras bandas punk se não fosse pela voz abafada de Joey. Pois é assim mesmo. É “one, two, three, four!”, paulada, palhetada agressiva na guitarra, três acordes simples e pronto. A característica voz de Joey Ramone nos faz afirmar com convicção de que o Ramones é único mesmo.

Na quarta-feira desta semana, 15, fez sete anos da morte de Joey. A doença que causou sua morte foi um linfoma, moléstia contra a qual Joey lutava há anos. É um tipo de câncer que afeta o sistema linfático, responsável inclusive por parte da produção dos glóbulos brancos do nosso sistema imunológico. Não era nada simples. Mas o que realmente complicou ainda mais sua situação foi quando, no inverno norte-americano, escorregou na escada congelada do prédio onde morava. Fraturou a bacia e para fazer a cirurgia necessária foi preciso interromper o tratamento medicativo contra o linfoma. Logo, o câncer se alastrou e Joey faleceu em um domingo de Páscoa. A notícia chocou o mundo todo, que acompanhava fielmente a sua luta para viver, torcendo para que o pior demorasse a vir. Apesar de tudo, o acontecido só comprovou que Joey Ramone era um dos artistas mais populares e queridos até mesmo no século XXI, quase trinta anos depois de estourar com o Ramones. Carisma não faltava para ele.

Após sua morte, em 15 de abril de 2001, nos deixaram também o baixista da formação original da banda Dee Dee Ramone, em junho de 2002, e o guitarrista Johnny Ramone, em setembro de 2004. Com isso, da formação original da banda só está vivo hoje o primeiro baterista, Tommy Ramone. Apesar das consecutivas mortes de integrantes do grupo nos últimos tempos, esse “sobrenome” nunca vai desaparecer. Cada fã em cada canto do mundo (e não são poucos) já faz parte da, como diz a música We’re A Happy Family, família feliz Ramones.