Edição 920 (30 de dezembro de 2006)

ARQUIVO
Divisor de águas



A definição certa para divisor de águas seria: pessoa que marque com uma estaca sua presença numa linha do tempo. A partir dessa estaca, existiriam os períodos anterior e posterior ao tempo em que esta pessoa viveu. Sem qualquer comparação subliminar, pense em Jesus Cristo. O tempo é contado em antes e depois de Cristo. Mas já estacionando no assunto música e na série dessa coluna sobre os melhores guitarristas do mundo e é claro, pela foto, já deu para perceber de quem estou falando: James Marshall Hendrix, ou então, Jimi Hendrix, pelo nome artístico. Ele é considerado, sem sombra de dúvidas, o guitarrista de maior importância e influência de todos os tempos.

Hendrix considerava B.B. King o melhor guitarrista do mundo. Aliás, as inspirações dele foram os grandes artistas do R&B (rhythm and blues) como o próprio B.B. King e T-Bone Walker. Jimi utilizava o recurso chamado feedback, que significa realimentação, além de outros efeitos em pedais como distorção e o wah-wah (Jimi Hendrix foi o grande “explorador” do pedal wah-wah, usando-o muito bem, sem exageros e nos momentos certos).

Nascido em Seattle, estado de Washington, começou a estudar música com um instrumento chamado “ukelele” — que possui quatro cordas e é muito parecido com o cavaquinho brasileiro — que ganhou de seu pai. Mais tarde, comprou, por cinco dólares, sua primeira guitarra acústica, colocando-se já no caminho de sua futura vocação.

Jovem, tocou por várias bandas de sua cidade natal, para depois alistar-se no exército como voluntário para a guerra do Vietnã, fazendo treinamentos como pára-quedista. Dizia ele que, ao atirar-se de pára-quedas, o som do ar assobiando inspirava-o em seus solos de guitarra. Foi dispensado porque, numa das revistas do serviço psiquiátrico, diz estar apaixonado por um de seus colegas de exército. Tudo isso para se dedicar à música.

E essa escapada do exército valeu a pena. Em 1965, assinou seu primeiro contrato (não muito proveitoso para o músico: assinou por três anos e ganhou um dólar e 1% dos direitos autorais de suas gravações). No ano seguinte, já tinha sua própria banda em estúdio, Jimmy James and the Blue Flames, apresentando-se regularmente em Nova Iorque. E foi numa dessas apresentações que o empresário e músico Chas Chandler conheceu Jimi Hendrix. Levou-o para a Inglaterra e formou um dos grupos mais conhecidos e creditados no mundo, The Jimi Hendrix Experience, com Jimi na guitarra e vocal, Noel Redding no baixo e Mitch Mitchell na bateria. O primeiro grande sucesso do grupo foi uma regravação de Hey Joe.

Are You Experienced? foi lançado em 1967 e é considerado até hoje, ao lado de outros tantos, um dos melhores álbuns lançados até hoje. Foi na Experience que Jimi Hendrix começou a praticar o seu ritual de queimar sua guitarra no final dos shows. Isso já causou tanta confusão... Hendrix já se queimou e danificou amplificadores e parte do palco em um desses rituais.

Falando sobre as guitarras de Jimi Hendrix, as famosas Fender Stratocaster, podemos citar que o guitarrista canhoto usava guitarras de destro. Nas Fender, utilizava muito a alavanca de trêmolo, aumentando ainda mais a tendência psicodélica da sua música, promovida principalmente pelo consumo de drogas. E foram as drogas que realmente deterioraram a carreira de Jimi Hendrix, levando-o a uma decadência sem volta.

Depois de sair da Experience por brigas com Noel Redding, fundou ainda outras duas bandas sem sucesso. Ainda tocou outras vezes com grupos provisórios de velhos amigos, mas nada que impedisse o fim de sua carreira. Em 18 de setembro de 1970, foi encontrado em uma cama de hotel, com sua namorada, desmaiado, após ter tomado nove pílulas para dormir, asfixiando-se em seu próprio vômito. Horas depois, morre no hospital por falência de órgãos, por conta de uma overdose, o melhor guitarrista da história.

Hoje, todos os seus direitos autorais pertencem à empresa Experience Hendrix, comandada por sua irmã. Com quase 10 anos de existência, a firma já faturou mais 44 milhões de dólares com direitos autorais. Mas a obra de Jimi Hendrix é mais extensa e vale mais do que alguns milhões de dólares. Afinal, ele foi o marco dos guitarristas de todo o mundo, pois foi o mais criativo, o mais inovador, o mais virtuoso. Enfim, acho que já podemos definir mais duas épocas mundiais: antes e depois de Jimi Hendrix.

BEAT
Bon Jovi em Londres
A dica dessa semana é o DVD Bon Jovi Live from London. O show da banda de New Jersey foi gravado em 25 de junho de 1995, pela turnê de divulgação do disco These Days. Começando com Livin’ On A Prayer, o grupo liderado por Jon Bon Jovi viaja por todas as suas fases, passando por todos os seus sucessos. Grandes apresentações tanto de Jon quanto do guitarrista Richie Sambora (e seus óculos redondos) são marcantes nas imagens. No meio do show, são armados grandes bonecos infláveis. O resgate de sucessos foi encerrado com a romântica This Ain’t A Love Song.

SEMIFUSAS
Rei do soul
O lendário James Brown, que faleceu segunda-feira, aos 73 anos, foi velado nessa quinta-feira na famosa casa de shows em que fez muito sucesso, o teatro Apollo, em Nova Iorque. Brown dizia aos filhos que se algo acontecesse, queria lotar o Apollo mais uma vez; e conseguiu, não como todos queriam, mas valeu a pena homenagear o rei da música soul. Uma dia antes do concorrido velório, no letreiro do local estava escrita a mensagem de ‘descanse em paz’. A sua energia no palco ainda vai influenciar muitos artistas por algum tempo.

Selos beatlescos
No começo de janeiro do ano que chegará à meia-noite de amanhã, vão circular os novos selos postais produzidos pelo Correio Real da Grã-Bretanha. Infelizmente, vão circular somente por lá. As ilustrações contidas são as dos álbuns mais famosos dos Beatles. São no total seis, incluindo os lendários Revolver e Abbey Road.