Edição 982 (8 de março de 2008)

O infindável Dylan e sua obra

dmirável é o fato de um artista de 66 anos ainda estar em atividade. Podia ter parado de tocar e cantar para aproveitar os milhões que ganhou nos tempos juvenis. Mas, apesar da voz um pouco gasta, Bob Dylan continua na ativa e encantando platéias do mundo todo com a famosa e infindável turnê Never-Ending Tour.

Desta vez Modern Times, o 44.º disco do cantor norte-americano e que ganhou o Grammy como melhor álbum em 2006, rege os shows. Em São Paulo foram dois, na quarta e na quinta-feira, na Via Funchal — com ingressos caríssimos, que variavam entre 250 e 900 reais!

Como já disse acima, a voz de Bob Dylan se desgastou com o tempo. Se isso é visível (audível) em seus últimos discos de estúdio, imagine ao vivo, onde qualquer intérprete tem um desgaste enorme. Mas é indiscutível que ele é uma lenda viva na história da música.

Conviveu com grandes nomes da sua época, compartilhando suas composições com esses. Canções como Like A Rolling Stone, incessantemente reproduzida pelos Rolling Stones, All Along The Watchtower, regravada por mais de 60 artistas, desde Jimi Hendrix, Eric Clapton, David Gilmour e Elton John até U2, Lenny Kravitz e Prince, e tantas outras como Highway 61 Revisited, Masters Of War e o clássico Blowin’ In The Wind são unanimemente considerados hinos da música mundial.

As músicas de Bob Dylan têm letras fantásticas. Pode procurar as traduções que você não vai se arrepender. Com conteúdos inteligentes, as poesias de Dylan são verdadeiros protestos escancarados pelos direitos civis, como em Blowin’ In The Wind, traduzida livremente: “Sim e quantos anos as pessoas podem viver sem que lhes permitam ser livres?”.

É realmente uma porrada direta nos líderes governamentais egocêntricos e desumanos. E o pior de tudo é que essa música foi lançada em 1963 e ainda se encaixa perfeitamente no contexto do mundo atual, infelizmente.
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orreu no último domingo, 2 de março, em Toronto, o guitarrista solo Jeff Healey. Canadense, faleceu aos 41 anos por um tipo raro de câncer que tinha desde a infância. A moléstia, denominada como retino-blastoma, afeta a região dos olhos e por isso foi causa da perda de visão de Jeff quando tinha apenas um ano de vida.

Jeff Healey ficou conhecido por desenvolver uma técnica até então inédita: tocar com a guitarra apoiada em suas pernas, pressionando os dedos da mão esquerda como se a escala do instrumento de cordas fosse um teclado.

Produziu trabalhos muito bons e tocou com Ian Gillan e Stevie Ray Vaughan em algumas apresentações. Em sua própria banda, fazia um blues de muita identidade. Foi um ótimo guitarrista, guardadas as dificuldades ao ter que tocar o instrumento de maneira até estranha.