Edição 929 (3 de março de 2007)

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Sir E.C. esteve aqui



Depois de nove semanas (esta é a décima) de textos sobre os melhores guitarristas do mundo, enfim chegamos ao fim dessa série. Já passaram por aqui nomes consagrados: BB King, Jimi Hendrix, Herbert Vianna, Jimmy Page, Carlos Santana, The Edge, Ritchie Blackmore, George Benson e Eddie Van Halen. Ufa! Que time, hein? E para fechar o nosso “Top 10”, é claro que não poderíamos deixar de falar do polêmico Eric Clapton. Garanto que muita gente esperava semana a semana que o britânico fosse citado em um dos artigos, mas o melhor sempre fica para o final.

Seu nome é Eric Patrick Clapton e nasceu em Ripley, na Inglaterra, no dia 30 de março de 1945. Tem o apelido de ‘Slow Hand’, por ser econômico nas notas usadas, apesar de muito técnico. O guitarrista, que já fez parte de bandas como os Yardbirds, Cream e Derek and The Dominos, foi um autodidata, ou seja, aprendeu a tocar sozinho, depois de ganhar sua primeira guitarra aos treze anos.

As origens musicais de Eric Clapton sempre foram mais puxadas para o blues, ritmo que fazia muito sucesso na Europa da década de 60. Logo, se firmou como um dos melhores guitarristas da Grã-Bretanha e do mundo, fazendo com que jovens chegassem a pichar, em locais públicos de Londres, a inscrição “Clapton is God” (“Clapton é Deus”).

O sucesso estrondoso de Eric Clapton começou com o trio Cream, que tinha também Jack Bruce e Ginger Baker como integrantes (o Cream é uma das extintas bandas mais aclamadas nos dias de hoje). Antes, tinha passado por outros grupos, inclusive pelos Yardbirds, sem ter o merecido reconhecimento.

Mas não foi só de sucesso que se fez a carreira de Eric. Em 1976, foi o centro de uma polêmica sobre racismo. Em um show em território inglês, o músico criticou a imigração negra e o aumento populacional do seu país. É claro que tudo aquilo foi um grande golpe na carreira, até então, bem sucedida do guitarrista. Rodavam pelo mundo inteiro sátiras de seus álbuns com o nome de “Eric Crapton”, sendo que “crap” significa, em inglês, “fezes”. Naquele momento, Clapton entrou em depressão e se afundou no alcoolismo, algo que marcou a sua pior fase profissional e pessoal (atualmente, ele mantém uma clínica de recuperação de alcoólicos e drogados em Antígua, onde fora internado na época, com o nome de Crossroads).

Aliás, a Crossroads vem elevando sua conta bancária por conta de vários leilões promovidos por Eric Clapton. Ele já pôs à venda coleções de guitarras, acessórios musicais e outros objetos, fazendo-os render cerca de 8,5 milhões de dólares. O item arrematado pelo maior preço foi a sua conhecida guitarra “Blackie” (uma Fender Stratocaster que é formada por inúmeros pedaços de diferentes modelos das chamadas Strats), que ficou em cerca de US$ 960 mil.

O Slow Hand, na sua época mais famosa, sempre usou as guitarras Fender Stratocaster, pelos botões de volume serem mais próximos da mãe direita do que de outras guitarras. Além disso, foi adepto de uma nova sonoridade que se criava junto com a Stratocaster, que tem um som mais agudo (enquanto as guitarras semi-acústicas, como as Les Paul, da Gibson, tinham os graves mais pesados). Eric Clapton foi o precursor da técnica de se tocar a guitarra ao mesmo tempo em que se usa a alavanca de tremolo.

E não é só um guitarrista de altíssimo patamar, mas também cantor e compositor. Já fez belas letras e melodias, principalmente depois que um filho seu, de quatro anos de idade, morreu ao cair da janela de um prédio (compôs as canções Tears In Heaven e My Father’s Eyes, em homenagem ao filho perdido).

Alguns momentos na vida de Eric foram, no mínimo, estranhos, como quando, em 2004, depois de ser proibido de dirigir na França, foi visto guiando um Porsche 911 em uma rodovia, na “cidade-luz”. Teve sua carteira de motorista cassada, inclusive no Reino Unido.

A propósito, o título do texto se refere a um álbum ao vivo lançado em 1975 por Clapton, que se chama E.C. Was Here (“E.C. [Eric Clapton] Esteve Aqui”).

Hoje, Eric Clapton tem 61 anos e segue carreira solo, lançando álbuns de inéditas e fazendo shows mundo afora. Polêmico, muitas vezes; excêntrico, outras tantas; errado, claro que sim (afinal, errar é humano); e um dos melhores guitarristas do mundo, sempre.

BEAT
Show no templo
É no Circo Voador, o templo da música e, principalmente, do rock nacional que ocorrem as melhores apresentações. Uma delas é o show que resultou de uma união de Flavio Venturini e Toninho Horta, dois músicos muito competentes. O CD lançado, Flavio Venturini e Toninho Horta no Circo Voador, tem apenas nove faixas, pouco para os amantes da boa MPB. Porém, a qualidade das composições e dos arranjos de Nascente, Qualquer Coisa a Ver Com o Paraíso, Fantasia e outros compensa a pouca quantidade de músicas. A apresentação de 1997 vale a pena ser ouvida.

SEMIFUSAS
Fim de banda?
Nessa quarta-feira, 28, o líder e vocalista da banda Jamiroquai afirmou a uma revista musical que, praticamente, encerrou sua carreira. Jay Kay, que já possui uma fortuna avaliada em cerca de 60 milhões de dólares, disse ter perdido a sua inspiração e, na renovação do contrato com a gravadora, “pulou fora”. Segundo ele, a probabilidade de voltar aos palcos é mínima, porém a chance de o Jamiroquai também encerrar a curta carreira é grande. Depois de vender 27 milhões de cópias, a banda pode decepcionar os fãs se interromper o bom trabalho desempenhado até agora, trabalho esse que é bom, principalmente, por causa da musicalidade da voz de Jay Kay.

Do contra
Pelo menos foi como se apresentou a banda Deep Purple, na pessoa de seu tradicionalíssimo vocalista Ian Gillan, ao pedir aos fãs para que não comprem seu último CD, um relançamento de um show de 1993, na Inglaterra. Essa apresentação aconteceu quando Gillan e Ritchie Blackmore estavam brigados (detalhe: depois dessa, foram apenas mais cinco shows até Blackmore deixar a banda). Completou dizendo que vai ficar muito decepcionado se os fãs comprarem o CD. A banda só soube do relançamento da “obra-prima” poucos dias antes de chegar às lojas. Palavras de Ian Gillan: “Não comprem esse disco. Comprem outro, qualquer outra coisa”.

TRÊS
Três músicas para se ouvir antes de uma festa:

Discothèque – U2
Dancing Days – Lulu Santos
She’s Electric – Oasis