Edição 979 (16 de fevereiro de 2008)

Quase três décadas sem Bon Scott



rian Johnson que me desculpe mas cantar no AC/DC como Bon Scott cantou é uma missão bem, diríamos, impossível. Tudo bem que o primeiro disco lançado pela banda australiana com Johnson nos vocais é o segundo mais vendido da história. Uau! Até eu me impressionei pela primeira vez. Back In Black, de 1980, fica atrás apenas da maior “apelação comercial” de Michael Jackson, o disco Thriller, que vendeu cerca de 54 milhões de cópias, contra 43 milhões do disco-condolência do AC/DC. “De Volta Em Preto” é uma homenagem póstuma a uma das melhores vozes do mundo, de timbre muito particular e inconfundível. Ao escutar Bon Scott dá para perceber na primeira palavra, na primeira sílaba da canção que é o próprio que está cantando. Além de tudo isso, a voz do escocês (apesar de a banda ter se formado na Austrália) tem um pequeno problema: vicia!

O nome verdadeiro de Bon é Ronald Belford Scott; nasceu em 9 de julho de 1946 em Kirriemuir, na Escócia, e se mudou para a Austrália muito novo, assim como os irmãos guitarristas do AC/DC Malcolm e Angus Young. Cantou e tocou bateria em grupos que ganharam até certa fama para a época, como The Fraternity e os Valentines. E a sua história na banda que faz o mais puro rock’n’roll começou de modo curioso: ele passou a ser motorista de vários grupos terra dos cangurus afora e, por um empurrãozinho do destino, tornou-se chofer de quem? Do AC/DC, banda recém-formada pelos Young, que tinha Dave Evans nos vocais. Depois de mais uma ajuda de forças maiores, Evans briga com o grupo e, logo, Bon é indicado pelo empresário da banda para ser o novo vocalista.

Não tinha como não se apaixonar pela voz rasgada e ao mesmo tempo aveludada de Bon Scott. Aceito na hora, em 1975 a banda lança seu primeiro álbum: High Voltage. E, depois de alguns outros discos, vem o trio-de-ferro da fase áurea do AC/DC: Let There Be Rock, de 1977, Powerage, de 1978, e Highway To Hell, de 1979. Dentre os grandes clássicos da banda, esses três discos possuem grande parcela de contribuição. Com o último, Highway To Hell, o grupo ganhou falsa fama de satanista, quando na verdade esse nome (“auto-estrada para o inferno”) é uma sátira a Stairway To Heaven (“escadaria para o paraíso”), do Led Zeppelin.

Bom, isso aqui não é uma sessão puxa-saco mas vamos admitir que a música do AC/DC na era Bon Scott é fantástica. A banda mostrava, tanto nas letras de duplo sentido quanto nos shows, o lado sexy que possuía. Aquela figura do chamado “rocker”, com cara de arruaceiro, conquistador de garotas, mas que no fundo só queria diversão, era incorporada perfeitamente pelos integrantes do grupo, principalmente por Bon.

Infelizmente, como quase sempre acontece na história dos bons, Bon Scott, quando a carreira do AC/DC começava a se impulsionar inclusive nos Estados Unidos, deixou-nos no dia 19 de fevereiro de 1980, há quase 28 anos. O motivo foi uma bebedeira que resultou na causa de morte mais idiota que existe: afogamento no próprio vômito. Vale a pena lembrar que Jimi Hendrix também morreu assim (por coincidência ou não). O cara que melhor personificou o rock’n’roll foi encontrado morto no banco de um carro.

Além do “trio-de-ferro” e do primeiro disco, High Voltage, o AC/DC, com Bon Scott nos vocais, lançou outros álbuns não menos importantes: TNT, de 1975, Dirty Deeds Done Dirt Cheap, de1976, e If You Want Blood (You’ve Got It) (ao vivo), de 1978. A maioria dos fãs é unânime: Bon Scott no AC/DC foi o melhor. Depois da morte dele, Brian Johnson até que fez bons trabalhos, mas que não chegam nem aos pés dos anteriores. A única maneira de se considerar a era Brian Johnson boa é se convencer de que Bon Scott nunca existiu.