Edição 926 (10 de fevereiro de 2007)

ARQUIVO
O cheio vazio do jazz



No português, os antônimos, palavras inversas que expressam um extremo e outro, podem ou não cair bem em um texto. Vai depender do assunto tratado por esse texto. Eu acredito que o jazz é o tema que demonstra, de melhor maneira, que os opostos se atraem e algo que nos soa tão cheio, tão completo aos ouvidos pode não ser aquilo que parece. O verdadeiro jazz é aquele que varia tanto em tonalidade quanto em tempo. As levadas podem ser características desde um tradicional blues até um tango de nossos hermanos argentinos. O tempo e a dinâmica vão tomando forma ao longo da música e dos improvisos. Portanto, ao ouvir um jazz e pensar: ‘Nossa! Essa música é boa, hein! Os caras devem ter ensaiado isso dia e noite!’, não se engane, não é assim. 90% do que rola numa música de jazz saiu ali, no momento, num show ao vivo ou mesmo nas gravações em estúdio. O que der na cabeça do músico, ele rapidamente o expressa no seu instrumento (inclusive na voz), fazendo com que cada solo se torne único e irreplicável. Quando esse solo de jazz é da guitarra da George Benson então, não é diferente.

Nasceu em Pittsburg, nos EUA, no dia 22 de março de 1943. Se interessou pelos instrumentos de cordas através do havaiano ukelele (semelhante ao cavaquinho). Até hoje, a sua mistura de jazz e rock é única. Trouxe para a guitarra suas influências de Miles Davis e Charlie Parker, inclusive tocando junto com eles e gravando álbum ao lado do mestre do jazz, Miles Davis.

Apesar de todo o sucesso conquistado nos últimos anos, George Benson teve um começo de carreira difícil. Por seu estilo nato de misturar os ritmos, foi rejeitado como acompanhante por vários músicos do jazz. Jazz esse que não agradava muito os fãs do rock. Mesmo assim, conflitou as duas levadas (jazz e rock) e só fez sucesso e se tornou popular mundialmente em 1976, quando assinou contrato com a Warner e gravou o disco Breezin’, uma mistura desse jazz-rock com o pop da época. Com o LP lançado, vendeu milhões de cópias, ganhou discos de ouro e platina e faturou o Grammy.

Sua sonoridade “jazzística” é mais marcante porque usa guitarras acústicas, com graves acentuados e agudos mais leves. Sempre preferiu a marca Ibanez, por ter a caixa de ressonância acústica maior que das outras. Nos improvisos, usa muito as notas graves e vai, gradualmente, subindo para as agudas nos momentos certos, criando um clima na música. Característica do seu jazz também é a mistura de escalas, tocando a nota que lhe der na cabeça. As tensões surgem naturalmente e em abundância, e, mesmo assim, dando tudo certo no final.

Benson sempre mesclou suas parcerias com vários artistas, que tocam diversos instrumentos. Desde trompetistas, como Miles Davis, até organistas, como Jimmy Smith, com quem gravou álbum como músico participante, porém até compondo canção própria para ser lançada no disco, o sucesso Mimosa.

Atualmente, possui 63 anos e uma carreira de brilho não tão bem encerrada quanto iniciada. Afinal, o início foi marcante, com uma chegada para ficar no mundo fonográfico. Porém, o encerramento da carreira ainda não é certo. Ainda bem. George Benson foi inovador e criou um jazz nunca visto antes no mundo do rock, e um rock inédito para o universo do jazz.

Desse modo, podemos dizer que o jazz é repleto, cheio (quase transbordando...). E que George Benson faz parte desse jazz. Então, se depois de ouvirmos uma mistura tão divergente (com antônimos e tudo), e não entendermos muito bem o que era aquilo, não nos desesperemos. Uma resposta é única e certa: isso é jazz!

BEAT
Resgate o baú do Raul
O rei do hippie nacional, Raul Seixas, pede sua ajuda. Pode estar meio empoeirado e amarelado como papel velho pelo tempo. Esquecido pela indústria e consumidores musicais. Porém, é o eterno Raulzito. Portanto, resgate o baú do Raul Seixas: tente outra vez, senão, eu também vou reclamar, mesmo dando uma de Alcapone, fazendo ou não parte de alguma sociedade alternativa. Ouça mais Raul Seixas. É cultura. “Colando” da Maria Olívia G. R. Arruda, a frase do Raul que mais se encaixa no mundo atual é: “Parem o mundo, que eu quero descer!”.

SEMIFUSAS
Punk nas metrópoles
A banda californiana Pennywise confirmou mais dois shows na agenda não tão compromissada. Ocorrerão nos dias 30 e 31 de março, em São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente. Os fãs de punk rock e hardcore têm prato cheio, pois os poucos ingressos já estão à venda e não vão durar muito tempo, não. Combinando com as letras politizadas e críticas do grupo, está a nossa esperança de que SP e RJ capitais não se tornem, definitivamente, as metrópoles da violência, como, infelizmente já estão se tornando.

Hotel insubstituível
Nesta quinta-feira, 8, o grupo estadunidense The Eagles anunciou que será lançado, em breve, trabalho inédito da banda. Depois de estourar com o sucesso Hotel California, o grupo se separou em 1980 e só se reuniu em 1994, dando uma pausa de quase quinze anos. Segundo o vocalista bem-humorado e quase-idoso, Don Henley (59 anos), o disco de inéditas “deve sair em 60 ou 90 dias, se nós não nos matarmos antes”.

TRÊS
Três músicas para se ouvir tomando banho:

This Love – Maroon 5
De Volta ao Planeta – Jota Quest
Run To The Hills – Iron Maiden