Edição 915 (25 de novembro de 2006)

Um pouco do rock nacional



Sem sombra de dúvida, o movimento musical mais popular de todos os tempos é o Rock’n’Roll. O adjetivo usado para o estilo musical explica tudo. Ninguém mais queria ouvir música erudita, aquela que tem seu som voltado apenas para a partitura, sem nenhum deslize de notas, de tempo, sem nenhuma marca que deixasse a sua sonoridade um pouco mais agitada, popular.

Bill Halley & His Comets (Bill Halley & Seus Cometas) foi o grupo que gravou o primeiro rock verdadeiramente dito. No Brasil, foi a principal influência para a chegada das guitarras (uma chegada para ficar). Aqui no Brasil, a cantora Nora Ney fizera versão semelhante em inglês, que emplacou com a batida de quatro bem quadradona que caracteriza o rock. A partir daí, o rock nacional adormeceu um pouco, tentando ser reacordado por programas de rádio e de TV, à procura de um novo estouro popular, e por Celly Campelo, que gravou em 1959 o hit até hoje tocado Estúpido Cupido (vendidas cerca de 120 mil cópias).

Nos anos 60, apesar da grande revolta dos artistas da MPB e Bossa Nova (a chamada “Passeata contra as guitarras elétricas”), foi quando o rock começou a ganhar força com o surgimento d’Os Incríveis, ainda com o nome The Cleevers, grupo praticamente instrumental.

Até que em 63, surge o capixaba Roberto Carlos, emplacando músicas como É Proibido Fumar e O Calhambeque. A Rede Record lança no mesmo ano o programa “Jovem Guarda”, com Roberto como rei e seus amigos Erasmo Carlos como tremendão e Wanderléia como ternurinha. O chamado rock primitivo entra de vez no ouvido agradando a todas as raças e classes sociais. A partir daí, surgem Ronnie Von e Jerry Adriani, inspirados no iê-iê-iê dos Beatles, na Inglaterra. Em 68, com a saída de Roberto Carlos, o programa termina.

Tudo isso dando gás para a primeira vertente do rock nacional inspirada na revolta, na rebeldia contra a instauração da ditadura, a Tropicália. A fase do deboche começou o grupo recém-reinstaurado Os Mutantes, com Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias (domingo passado, no Fantástico, foi exibida reportagem da volta d’Os Mutantes, agora com Zélia Duncan como vocalista). Kurt Cobain, do Nirvana, teve influências d’Os Mutantes. O grupo começa a se desmanchar em 73 com a saída de Rita Lee. Caetano e Gil surgem com canções vaiadas nos festivais, dando espaço para os inovadores Tom Zé, Gal Costa e Nara Leão.

Nos anos 70, outras vertentes do rock nacional surgiram: a poesia musicada dos Secos & Molhados, com Ney Matogrosso, o hippie nacional com Raul Seixas, o Clube da Esquina de Milton, Lô e Beto, os Novos Baianos, acompanhados de uma invasão nordestina que misturava a música do sertão com rock como Zé Ramalho e Fagner, os alternativos Sá, Rodrix e Guarabira e muitos outros com menos espaço na mídia.

Entrando na “década perdida”, e mostrando que na música a década foi muito bem aproveitada, comecemos pela descida dos rockeiros brasilienses ao eixo Rio-São Paulo, como Legião Urbana e Aborto Elétrico (atualmente Capital Inicial), dando uma cara já bem afeiçoada ao BRock. No Rio, Paralamas do Sucesso (que surgiram em Brasília, mas são cariocas) e Barão Vermelho, liderado pelo eterno poeta Cazuza, estouraram com a inauguração do templo do rock nacional, o Circo Voador, e fazendo com que surgissem Kid Abelha, Lulu Santos e Lobão (ex-Blitz), os dois últimos da banda Vímana. Em São Paulo, os Titãs surgem ao lado de várias outras bandas reveladas em festivais punk como Ultraje a Rigor, Metrô e RPM. No Sul, mais tarde sobem para a fama os Engenheiros do Hawai. Seguindo o exemplo dos Novos Baianos e dos precursores da Tropicália, o Camisa de Vênus chega a São Paulo também aumentando a popularidade do rock. Em Minas, as bandas de heavy metal começam a surgir mas fazendo mais sucesso no exterior do que em território nacional, como o Sepultura (que faz um enorme sucesso nos EUA) e o Angra.

Mas só em 1990 que os mineiros começam a realmente fazer sucesso, com a mistura de rock e reggae Skank. Ao longo da década, outros grupos mineiros surgiram como Jota Quest e Pato Fu. Como sempre, o Nordeste também aparece com novidades como Chico Science & Nação Zumbi, agradando a crítica da época. Raimundos, Mamonas Assassinas, Charlie Brown Jr., Cássia Eller e Los Hermanos foram os principais sucessos da época, alguns fazendo sucesso até hoje.

Atualmente, a definição para rock nacional é uma mistura do pop com heavy metal. As bandas de sucesso são CPM 22, Detonautas, Tihuana e a baiana Pitty, muito pobres de letras e melodias. Da metade da década de 90 para cá, tragédias foram comuns como as mortes de Cazuza, Renato Russo e Cássia Eller, o acidente aéreo de Herbert Vianna e a introdução do rap no rock (não é uma tragédia física, mas definitivamente foi o que afundou a qualidade da música em geral do Brasil).

Mesmo com essas crises, tanto das tragédias quanto da qualidade perdida ao longo do tempo, ainda há remanescentes do verdadeiro rock: Paralamas do Sucesso, mesmo com seu principal integrante paraplégico, Skank, Jota Quest, o bossa-rock Gabriel Guerra, os gaúchos do Catedral, Wilson Sideral (irmão de Rogério Flausino do Jota Quest) e os separáveis Frejat, Guto, Rodrigo, Fernando, Peninha e Maurício (Barão Vermelho), que mantêm a esperança do rock nacional voltar aos anos 80, com letras embasadas, melodias que entram nos ouvidos e nunca mais saem, características do bom e velho Rock’n’Roll.