Edição 993 (24 de abril de 2008)

Um ano depois, o novo disco do Scorpions



vigésimo primeiro álbum de estúdio dos vovôs do Scorpions foi lançado há exatamente um ano, em maio de 2007. A crítica no mundo inteiro entrou em concordância: Humanity: Hour I é um dos melhores desde os clássicos Blackout e Love At First Sting, de 1982 e 1984 respectivamente. E apesar de já fazer um ano desde seu lançamento, o álbum continua impressionando cada vez mais os novos ouvintes, inclusive eu. Por isso, nesta semana me incubi à difícil tarefa de resenhar um disco de um grupo mais que clássico.

Confesso que a voz eletrônica feminina que logo na primeira faixa, Hour I, nos dá as boas-vindas (“Welcome to Humanity. This is Hour I”) é bem estranha. Mas logo os ouvidos já se acostumam com o peculiar hard rock do Scorpions. Uma música bacana para a abertura de um álbum, porém não é tudo aquilo. Se não fosse a primeira faixa, ninguém daria bola. Já a segunda é uma das minhas favoritas no CD. The Game Of Life é uma baladinha pesada, típica do Scorpions. O nível das letras e composições começa a subir. É justamente a música-hit do álbum, a com o refrão mais pegajoso e pronto para estourar nas rádios e na boca do povo.

As duas próximas faixas, a terceira e a quarta, não são as fantásticas, contudo muito boas. We Were Born To Fly e The Future Never Dies seguem uma linha parecida com a anterior. Letras melosas, porém inteligentes, e “refrões chiclete”. A quinta canção é You’re Lovin’ Me To Death e lembra muito as músicas do disco anterior, o Unbreakable, de 2004. Tinha tudo para se tornar a melhor do álbum até que o refrão chega e estraga tudo, com uma rima sem vergonha e um ritmo chato.

Seguindo a ordem, a sexta faixa, 321, empolga bastante principalmente pelos solos de guitarra. Mas a repetição exaustiva do refrão “Are you ready to rock?” cansa. Coitado do vocalista Klaus Meine! Se bem que ele se redime na sétima canção, uma balada muito gostosa, que relembra demais os tempos da Still Loving You. A letra e a harmonia bem compostas de Love Will Keep Us Alive apenas fazem o pé-de-meia para que todos se convençam ainda mais que Klaus é um dos “caras” quando se fala em vocalista de rock, atingindo notas incrivelmente agudas. We Will Rise Again tenta resgatar um hard rock mais pesado, furando a série de baladas. Apenas tenta. Mas é incrível como os licks e riffs de Matthias Jabbs e Rudolf Schenker são cada vez mais distantes dos padrões de mesmice atuais.

Your Last Song e Love Is War talvez sejam as duas músicas que estão no disco apenas para compensar o gasto, apenas para não se ter prejuízo. Têm refrões muito previsíveis e comerciais. A décima primeira e penúltima poderia afundar todas as outras, quando vi que esta faixa, The Cross, tinha a participação de Billy Corgan, do Smashing Pumpkins. Mas, ainda bem, não. Seus vocais são bem discretos, por sorte.

A última faixa (totalizando doze) é a Humanity, surpreendente. Letras e melodias diferentes de tudo acompanhadas por alguns instrumentos de orquestra, como um violino, me parece. Só que o final da música, assim como o de outras — até parece que o Scorpions desaprendeu — , é horrível! Depois da frase “Good bye” ter sido dita um punhado de vezes, o fechamento do disco se dá com o refrão da música em forma de jingle de carrossel de circo, por uns estonteantes 20 segundos. Não sendo o bastante, de repente surge a voz de uma menininha dizendo algo incompreensível. No mínimo estranho.

Como li em críticas, podem dizer que faltou peso e velocidade ao disco, analisando o retrospecto do Scorpions. Mas é de se admirar que um grupo antigo como os “escorpiões alemães” esteja na ativa até hoje e fazendo coisa boa e inédita. A maioria está excursionando com sucessos antiqüíssimos, sem qualquer renovação. Ademais, recomendo esse disco: Humanity: Hour I. Quatro estrelas.