Edição 983 (15 de março de 2008)

Artimanhas do destino



á cerca de 30 anos, Ozzy Osbourne deixava a banda que inventara o heavy metal, abrindo espaço para que outros músicos pudessem decolar em sua carreira musical, já que estes tocariam com um artista já consagrado. Ozzy, na busca por esses instrumentistas, realizava audições tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos. E foi numa dessas passagens pela terra do Tio Sam que ele encontrou um verdadeiro guitarrista de heavy metal, aquele cabeludo que usa guitarras diferentes e, principalmente, compõe de modo diferente. O próprio Ozzy Osbourne diz que, quando fazia os testes, procurava alguém com um estilo próprio. E encontrou. Era Randy Rhoads o guitarrista que não só o cantor precisava, mas o mundo todo.


É chamado pelos fãs mais radicais como “o eterno companheiro de Ozzy”, até mesmo desmerecendo os posteriores Jake E. Lee e Zakk Wylde. Que não se pode desmerecer os outros dois “companheiros” de Ozzy, tudo bem; mas que Randy Rhoads foi bem melhor que os dois juntos, disso não se tem dúvidas. Os riffs ao melhor estilo Tony Iommi e os solos acrobáticos são prova disso. O clima dessas composições combina com a fase pós-Black Sabbath de Ozzy, que nessa época se afundou em remédios e antidepressivos.

Apesar da carreira curtíssima, Randy Rhoads deixou uma legião de fãs e de guitarristas seguidores, influenciados por seu “estilo próprio”. Antes de fazer parte da banda de Ozzy Osbourne, ele tocava no Quiet Riot — que inclusive lançou álbum em homenagem a Randy quando morreu, sendo este o de maior vendagem do grupo. Randy gravou dois álbuns com Ozzy: Blizzard Of Ozz, de 1980, e Diary Of A Madman, de 1981. Após isso, tinha pretensões de deixar a banda para dedicar-se à música erudita. Porém o destino não o permitiu.

Em 19 de março de 1982, há quase 26 anos, Randy se encontrava em Orlando, Flórida, em turnê com Ozzy. Depois de dirigir muito, o motorista do ônibus da banda convidou Randy e a cabeleireira da turnê para alguns rasantes com um pequeno avião. Segundo fontes, na terceira vez em que sobrevoavam o ônibus, assustando quem estava dormindo dentro dele, a asa direita da aeronave colidiu levemente com o automóvel, fazendo com que o piloto perdesse o controle e colidisse o avião contra uma mansão próxima — nenhum morador da residência sequer se machucou. Os três passageiros, inclusive Randy Rhoads, morreram na hora. Mais tarde, seria descoberta na autópsia a presença de cocaína no organismo do motorista do ônibus, que pilotava o avião naquela data. Rhoads estava “limpo”.

Acidente? Assassinato? Com ou sem intenção de matar? As supostas sentenças são muitas, só que para um suspeito que também morreu, e no mesmo dia da suposta vítima... As lembranças são eternas: as guitarras Flying V preta com bolinhas brancas e a Les Paul creme, o clima dos solos ao vivo. E tudo acabando com uma bobeira quando ele tinha apenas 25 anos. Tinha muito mais para extrair de suas guitarras, às vezes até maiores que o próprio pequeno corpo. É mais fácil encarar o fato como simplesmente mais uma artimanha do destino.